Planeje-se para 2022! Saiba quais as expectativas para a economia
Entrevista com o economista José Augusto Ruas

O ano de 2021 começou com expectativas positivas para a economia brasileira. A reabertura do comércio e o avanço da vacinação representaram um alívio em meio às dificuldades enfrentadas em 2020. Contudo, ao longo do ano, os aumentos da taxa de câmbio, da inflação e da taxa de juros passaram a fazer parte do nosso cotidiano. Agora, é hora de olhar para 2022 e se planejar para o ano que já tem alguns eventos confirmados como, eleições e Copa do Mundo.
Nesse contexto, qual a expectativa para a economia do país em 2022? O coordenador do curso de Ciências Econômicas da FACAMP, José Augusto Ruas, adianta um panorama sobre 2022.
Em 2021, o Governo Federal anunciou a reformulação dos programas Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida. Como o gasto público, com esses programas, afetará a economia?
O gasto público deve ser visto como um fator propulsor. É dinheiro circulando na economia, que vai ser gasto no consumo das famílias. Essa situação causa um efeito bola de neve, que tende a impulsionar o crescimento. A questão é a composição desse fator com o restante das informações: o dólar, o desemprego e a inflação, que estão em patamares muito complicados. Nesse contexto, os programas acabam sendo uma função emergencial para evitar uma miséria extrema. Mas certamente esse gasto terá um impacto positivo no PIB (Produto Interno Bruto).
Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a expectativa para o crescimento do setor varejista é de 4,9% em 2021, mesmo com a inflação. Com a vacinação em andamento e a reabertura do setor de serviços, há previsão de que o varejo continue crescendo no próximo ano?
Existe uma pressão de recuperação de uma parte do setor varejista, que já está reabrindo. Nesse final de ano, o varejo talvez já esteja quase plenamente em operação. Alguns setores mais específicos, como o ligado a shows e outros eventos com aglomeração, precisam esperar até 2022 para se recuperarem com menos timidez. Em 2022, o setor varejista tende a se manter nesse patamar do fim de ano, mas é possível que a taxa de crescimento seja um pouco menor do que a de 2021.
Quais setores terão um bom desempenho econômico no próximo ano?
Há uma previsão para o ano que vem de que a taxa de câmbio continue pressionada. Assim, se ela continuar a ser desvalorizada, é provável que o setor exportador seja mais favorecido. Nesse sentido, setores como agronegócio, mineração e setores ligados ao petróleo terão um desenvolvimento econômico mais positivo. À medida que a economia se recupera e o coronavírus fica para trás, o setor varejista pode mostrar um desempenho positivo também. E quando a pandemia acabar efetivamente, setores de serviços pessoais, como restaurantes e hotéis, também tendem a melhorar seu desempenho econômico.
Nos últimos meses, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foi influenciado pelas geadas e pela seca. Os problemas climáticos ocorridos ao longo de 2021 poderão impactar a economia também em 2022?
A geada e a seca influenciaram, mas o impacto no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é muito mais importante pelos produtos importados, pela forma como esses produtos refletem na política de reajuste da Petrobras e pela incapacidade dos governos nos últimos anos de comandar uma estratégia de investimento no setor elétrico. Estamos há 5 anos sem crescimento econômico no Brasil e estamos abaixo do produto de 2014. Ou seja, se em 2014 teve energia no país, 5 anos depois a energia faltar é uma completa incapacidade de conduzir estratégias de investimentos no setor elétrico. Não dá para jogar a culpa na seca. Mas a respeito da inflação, é possível que os efeitos se prolonguem sim ao longo do tempo.
Em 2021, as projeções do Banco Central para a taxa de juros estiveram em constante elevação. Para o ano que vem, há previsão de uma redução na taxa SELIC, taxa básica de juros da economia?
Acredito que a taxa SELIC deve continuar em ascensão até, no mínimo, o meio de 2022. Tudo vai depender do caminhar da inflação. E como a inflação vem se acelerando, ela tende a se retroalimentar. Assim, à medida em que os alimentos sobem, as pessoas que trabalham com o setor de serviços sobem o seu preço, porque seu poder de compra foi reduzido. Dessa forma, você gera uma espiral inflacionária, prolongando os efeitos da inflação e aumentando a SELIC.
O aumento da taxa SELIC é uma estratégia usada para conter a inflação. Contudo, ao diminuir, por exemplo, o poder de compra dos consumidores, os vendedores acabam perdendo possíveis compradores. Como as empresas podem contornar essa questão?
As empresas têm que pressionar o governo para não usar a SELIC como mecanismo único de contenção da inflação. Especialmente se essa inflação não tem origem no sobreaquecimento da economia, que é o que estamos vendo hoje. Porque se você eleva a taxa de juros, o efeito sobre o crescimento da economia é severo. Não tem para onde as empresas correrem porque a demanda acaba reduzindo. E se as empresas cortarem seu gasto e diminuírem seus funcionários, o efeito se retroalimenta, porque elas demitem pessoas que vão deixar de comprar e, assim, demitir outras pessoas em outras empresas, alimentando esse efeito.
2022 é ano de eleições. Esse cenário de possível polarização política atrapalha os investimentos? De que forma?
A meu ver, o que atrapalha os investimentos é a ausência de horizonte macroeconômico. Se você não tem clareza sobre o que pode acontecer no futuro do país, você não deve fazer um investimento cuja amortização acontece no longo prazo. O fundamental para pensar a questão dos investimentos é analisar um plano de governo. Qual é o plano de governo dos candidatos? É preciso olhar qual horizonte os candidatos vão oferecer.
Como a Copa do Mundo afeta a economia e o setor de negócios?
Não é um efeito homogêneo na economia. Ela possui um efeito positivo em alguns setores, por exemplo o de eletrodomésticos e o de bebidas. Mas quando a Copa do Mundo não é em seu território, ela impulsiona apenas um circuito de eventos localizados nesse período. Por outro lado, por conta da redução da produtividade nos dias de jogos, o efeito é o contrário. Porque os estabelecimentos tendem a fechar.
Com as taxas de juros altas afetando o consumo das famílias e o investimento, os cortes no gasto público e alta do dólar, o que esperar do PIB em 2022?
A tendência é de resfriamento das perspectivas, justamente porque o crescimento econômico em 2021 se mostrou muito menos robusto do que se imaginava. As taxas de juros continuam subindo, enquanto o consumo das famílias, o investimento e o gasto público têm uma reação mais devagar do que se imaginava. Somando a alta do dólar e o gasto público em contração, o PIB brasileiro não deve ter uma taxa de expansão em 2022 que supere 1,5%. Esse é um valor até otimista. Espera-se que a economia brasileira volte para a situação de 2017 e 2019, quando o Brasil teve um crescimento em torno de 1%, muito pouco para uma economia como a nossa.
No geral, há expectativa de reaquecimento da economia em 2022?
A economia está com poucas expectativas de crescimento e elas vêm piorando ao longo do tempo. Eu não chamaria de crescimento econômico nada abaixo de 1%, e entre 1 e 2% diria que é muito baixo. Nós caímos no PIB do segundo trimestre, caímos no terceiro trimestre. Se não crescermos no quarto trimestre, vamos voltar para um patamar abaixo do PIB de 2019. Na prática, ainda estamos tentando recuperar o que perdemos na pandemia. Então, o reaquecimento seria ter efetivamente um crescimento que nos permitisse, não só superar o que aconteceu na pandemia, mas engatar uma trajetória que foi perdida no último trimestre de 2014.